segunda-feira, 3 de novembro de 2008

SUPER HUMANOS


O DEMOLIDOR



Olhando de longe, Ben Underwood é um garoto americano tradicional. Mora no subúrbio, joga videogame, vai ao colégio, anda de patins com habilidade. Mas é só chegar perto dele para ver, ou melhor, ouvir, o que o faz diferente, especial. Enquanto anda, ele faz um clique - um estalo com a boca. Não é um tique nervoso. É emitindo um barulhinho esquisito que ele enxerga. Ou melhor, é assim que ele percebe os obstáculos à sua frente. Como os golfinhos e morcegos, o rapaz de 15 anos se movimenta por ecolocalização - um dos pouquíssimos seres humanos a desenvolver essa habilidade. Ele emite um som e, a partir da velocidade e volume do eco, é capaz de "enxergar" do que se trata - com seus cliques ele pula obstáculos, diz se é um carro ou uma caminhonete, atinge uma pessoa com uma bola jogando queimada. Foi a maneira que ele encontrou para viver uma vida razoavelmente normal depois de perder a visão, aos 3 anos. "Se eu andasse de bengala, os meninos da escola iriam quebrá-la", contou à revista americana People este ano. Seu treinamento foi como em filmes: sua mãe e irmãos mais velhos nunca o trataram com piedade. Na escola, um professor o desafiava depois das aulas perguntando a localização de objetos para que ele melhorasse seus instintos. O próprio garoto testava seus limites. De vez em quando, tentava correr e esborrachava a cara na parede. Levantava, continuava com seus cliques. Aprendeu a "ler" os sons mais rapidamente. Sua audição lhe permite derrotar o irmão em jogos de luta no videogame (pelo som dos personagens ele consegue ver qual golpe está sendo dado) ou jogando pebolim - o som da bola correndo na madeira o ajuda a saber onde deve bater para fazer os gols. Ben Underwood tem uma história parecida com a do super-herói Demolidor. Para compensar a cegueira, o diabo vermelho dos quadrinhos e do cinema desenvolveu todos os outros sentidos além do humanamente normal. O moleque americano não combate criminosos - a não ser no videogame. Para além da bela história de superação, que ilustraria livros de auto-ajuda, o exemplo de Ben mostra que seres humanos também são capazes de desenvolver alguns superpoderes que parecem só existir na ficção. Dan Kish, um psicólogo especializado em cegos e estudioso de ecomobilidade diz que Bem "expande os limites da percepção humana".


CAPITÃO CORAÇÃO


Ter um coração 30% maior que a média não é exatamente normal, mas acontece entre atletas de ponta – afinal, são pessoas que trabalham muito esse músculo, como Lance Armstrong. O coração do maior ciclista da história não passa de 34 batidas por minuto em repouso (os “normais” ficam em 70 bpm) e em alto esforço pode passar de 200. Até aí nada sobre-humano, apenas um pouco extraordinário. Mas não é só isso. Quando uma pessoa faz esforço físico, a taxa de ácido lático nos músculos vai aumentando até ela sentir cansaço, a chamada fadiga muscular. Entre os melhores atletas, a taxa de lactato (que forma o ácido) fica entre 12 µl (microlitros, milionésimos de litro) por quilo a 20 µl/kg. A de Armstrong fica abaixo de 6 µl/kg. Em outras palavras: o homem praticamente não cansa.
O estilo locomotiva, de manter o mesmo ritmo, forte, durante todas as provas é o que o distinguiu dos demais e possibilitou a conquista de 7 títulos consecutivos da Volta da França (entre 1999 e 2005), a mais importante competição do ciclismo de estrada no mundo. O interessante é que, antes de ganhar sua primeira Volta, Armstrong ficou 3 anos parado. Em 1996, descobriu que tinha câncer já em estágio avançado, que ia dos testículos ao cérebro. A chance de sobrevivência era de apenas 3%. “Os médicos disseram no início do tratamento que era de 50% para me deixar mais esperançoso”, escreveu o ciclista no livro De Volta à Vida. Lance enfrentou a quimioterapia e sobreviveu. Mas fez muito mais que isso.
“Na quimioterapia, ele foi obrigado a usar drogas que acabaram dando a ele uma resistência que não teria atingido dentro do tratamento normal. Teoricamente o tumor foi um doping pra ele. Depois do câncer Armstrong melhorou em todas as especificações”, afirma João Gilberto Carazzato, especialista em medicina esportiva da USP.


HOMEM ELÁSTICO
Se fôssemos montar um time de super-heróis imitando os dos quadrinhos, a vaga de homem elástico ficaria com Garry Turner. Uma mutação genética conhecida como síndrome de Ehlers-Danlos faz com que o inglês de 38 anos tenha uma grave falta de colágeno no corpo. Suas juntas são moles – ele pode se dobrar e ficar em posições de fazer inveja aos melhores contorcionistas, Além disso, sua pele é extremamente elástica. A doença pode ser gravíssima e até matar, mas, na variação que acomete Garry, que atinge 1 em cada 593 milhões de pessoas no mundo, segundo o próprio, só o faz ser mais “divertido”. “As crianças adoram brincar com minha pele”, disse numa entrevista à TV holandesa.
A maleabilidade do corpo de Garry rendeu duas entradas no livro dos recordes: maior número de pregadores presos à face (158 peças, sem colocar nos lábios) e maior elasticidade da pele – ele levantou 15 cm de pelanca da sua barriga magricela. Garry não reclama de ser chamado de aberração e até lucra com isso, excursionando com um circo, espécie de show de horrores, pelo Reino Unido.

SINESTESIA

Elisabeth, uma estudante de música considerada a única pessoa no planeta com um tipo raro de habilidade sinestésica (capacidade de combinar, de forma involuntária, a audição, a visão e o paladar). Assim, por meio de combinações de notas musicais, ela é capaz de ver cores e formas e até sentir aromas que se materializam em sua língua.ARTISTA PLÁSTICO CEGO
Outra história real é a do turco Esref, um cego de nascença que produz fascinantes pinturas de natureza viva ou morta. Mesmo sem nunca ter enxergado, ele usa cores bem definidas e desenha em três dimensões utilizando a perspectiva de três pontos, técnica que simula, por exemplo, o efeito causado quando o alto de um prédio é observado da rua. Mais informações visite:
HOMEM DO GELO

Da Holanda vem Wim Hof, o "Homem de Gelo", que suporta as mais baixas temperaturas ao controlar sua fisiologia de tal forma que não sofre os efeitos de ulceração que o frio provoca e resulta em morte. Ele ficou mais de uma hora coberto de gelo, apenas com a cabeça de fora, garantindo mais um recorde mundial de banho gelado. Em outra ocasião, vestindo apenas bermuda e óculos, o holandês nadou por 50 metros em um lago congelado.
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